quinta-feira, 25 de junho de 2015

A Ajuda do Espantalho


Numa cidadezinha do interior, um homem muito pobre tinha uma fazenda com plantação de milho, mas apesar disso passava necessidades, pois sua plantação era constantemente atacada por pássaros, sem ter o que comer, sua família ia se definhando. Um dia sua esposa chega e diz: -“Amor acabou a comida, não jantaremos essa noite”. O homem entra em desespero era ele sua mulher mais três filhos, deixar eles morrem de fome seria o fim. Meu deus o que eu faço? Clamou o pobre homem!

Então numa noite ele resolve fazer um espantalho de palha vestido com roupas velhas e uma careta mal feita. Então o homem já sem esperanças senta numa pedra bem de frente para o espantalho e clama por ajuda, do nada aparece um pequeno fogo embaixo do espantalho, então o espantalho soltou uma risada macabra, o homem achou que estava ficando louco e foi dormir. No outro dia a plantação voltou a dar frutos e os pássaros tinham ido embora, ninguém sabia o porquê dessa virada, só o homem e ele tratou de não contar a ninguém.

Com a família já prospera, o espantalho foi esquecido, ficou lá no meio da plantação, abandonado e cheio de teias de aranha. Um dia à noite o filho do homem estava brincando na plantação quando se deparou com o espantalho, o garoto meio pestinha pegou uma pedra e tacou no espantalho e começou a fazer chacotas, então o menino gritou dizendo que os olhos do espantalho ficaram vermelhos, depois disse que estava saindo uma fumaça de sua boca e por fim que tinha começado a se movimentar. Achando que era apenas uma brincadeira de criança a mulher ignora até ouvir um grito.

Eles se retiram correndo da casa e vão imediatamente em direção do local do grito da criança, o homem com uma espingarda e a mulher logo atrás, vão para o meio do milharal e se deparam com o corpo do menino caído lá no meio da plantação, ao chegarem perto percebem muito sangue e que ele está com a boca e os olhos costurados. A mulher solta um grito de pavor, o homem então olha para o espantalho e se culpando pela morte do filho, coloca fogo no espantalho, enquanto ele queima uma risada maléfica é ouvida, assustados eles resolvem abandonar a fazenda. Quando estavam saindo, uma fumaça preta subiu ao céu e se dissipou.

Aquela fazenda nuca mais foi habitada por ninguém, todos tinham medo, dizem que se passar a noite de lua cheia pode ouvir o espantalho dando risada junto com um menino pestinha com os olhos e boca costurados, e os que se atreveram a entrar na fazenda ou fazer chacotas, desaparecem misteriosamente, restando apenas sangue e roupas rasgadas.clubebrasileirodetrensfantasmas.com

segunda-feira, 15 de junho de 2015

O HOMEM DE PRETO

Seu nome era Samuel. Ele estava em apuros.

Naquela noite escura, alguém o perseguia e desejava matá-lo. Sua vida corria risco, o tempo corria contra ele.
Qualquer movimento em falso e seu destino seria irreversível. O desespero tomava conta de seus sentidos.
E agora, o que fazer? Para onde ir?
Ele, simplesmente, não sabia nem ao menos se estaria vivo no minuto seguinte.
Tudo o que queria era que seu coração se acalmasse.
O tempo estava passando e o cansaço começou a dominá-lo. Suas pernas já não reagiam mais da mesma forma.
E, pouco a pouco, ele foi diminuindo o ritmo. Teria chegado seu fim? A morte o levaria naquela noite?
Não, Samuel não queria pensar no pior.
Ele ainda poderia fugir. Queria que o pesadelo acabasse. Já não tinha mais forças para correr.

Foi quando o avistou. Saiu do meio da escuridão e escondeu-se entre as sombras. Samuel gritou.
Entretanto, quem ouviria seus gritos naquele inferno?
Não havia para onde fugir.
Eram apenas eles dois. Lembrou-se, então, do revólver que portava na cintura.
Não tinha mais balas, mas se conseguisse dar-lhe uma coronhada, ele o deixaria inconsciente e conseguiria escapar.
Virou-se e não viu ninguém. Para onde teria ido? Como desaparecera? O medo se apoderava de Samuel.
A morte estava cada vez mais perto. Ele não tinha mais fôlego para continuar correndo.
Tentava encontrar um lugar seguro, mas seria em vão, não havia nenhum daquele lado da cidade.
Não tinha ninguém para ajudá-lo. Sua vida dependeria apenas dele mesmo.
Continuou correndo e, finalmente, aproximou-se de um prédio abandonado.
Agora, poderia refletir sobre o que estava acontecendo. Nada fazia sentido.

Por que aquela estranha figura sob um manto preto o perseguia? O que queria?
Quem era ele? Pela janela do corredor, avistava-se o mar.
No entanto, não era mais azul. Estava tingido de sangue. Samuel viu centenas de corpos boiando. Mortos.
Seria o Dia do Juízo Final? ...e foi lançado no mar, como um grande monte ardendo em fogo, e se tornou em sangue a terça parte do mar. E a terça parte das criaturas que viviam no mar morreu...
A Bíblia mencionava o Apocalipse. Não, não poderia ser verdade. Ele não queria acreditar.
Por que tudo aquilo estaria acontecendo? E qual a relação entre o mar e aquele estranho homem que o perseguia?
Ouviu um barulho – havia alguém ali. Ele poderia estar errado. Melhor não se descuidar.
Caminhou em direção ao som, abriu rapidamente a porta e viu um rato correr. Avistou mais um corpo.
Mas não apenas um. Havia outros em volta. O lugar cheirava à carne podre.

Cada vez tudo parecia fazer menos sentido.
O mar. Os mortos. O estranho sob um manto negro.
A cidade destruída. Teria chegado a hora que o Homem pagaria por tanta insensatez?
Afinal, estávamos nos destruindo uns aos outros, acabando com o planeta.
Os humanos haviam se esquecido de amar. Um novo barulho chamou sua atenção.
Seria aquele homem de preto? Sim, era ele. Podia vê-lo escondido em meio às sombras.
O homem sob o manto preto começou a caminhar em sua direção.
Agora, ele não iria conseguir escapar. Mais alguns metros e ele o alcançaria. Seu coração acelerou.
Sentiu um frio no estômago.
Ele foi tomado pelo medo. Agora não poderia mais correr. Foi então que o vulto saiu das sombras e se revelou.
Ele estava agora bem à sua frente.

O homem sob o manto preto tinha um rosto desfigurado. Não havia qualquer expressão nele.
Seus olhos eram os de um psicopata que não hesitaria matar, se precisasse. Ele se aproximou, tirando um facão ensangüentado que trazia preso à perna.
Samuel, por sua vez, tirou a arma do coldre, e apontou-a em direção a ele, que erguera o braço para desferir o golpe final.
E o inesperado aconteceu.
O estranho seguiu em frente e deu um talho em um dos corpos entre as centenas de mortos à sua volta.
Fazendo um corte longitudinal, o homem tirou um pedaço de carne e começou a devorá-lo.
Samuel sentiu uma sensação de alívio mesclada a um forte enjôo provocado por aquela cena grotesca.
Tudo agora fazia mais sentido – era apenas um homem tentando sobreviver em meio àquele caos:
A voz ouvida do pássaro insólito, sobre a chaminé da lareira: tão alto subirão os alqueires de trigo, que o homem devorará o homem.

Ele recordou essa quadra de Nostradamus, escrita há muitos séculos, que dizia que a fome no mundo chegaria a tal ponto que os homens se devorariam uns aos outros. Samuel agora compreendera tudo.
A destruição não viria dos céus, mas dos homens.
O Homem concretizara seu legado de morte, dando fim à própria raça. Durante a explosão, dois dias antes, Samuel batera a cabeça contra uma parede e ficara desacordado por algum tempo. Na véspera, ouvira boatos sobre o início da Terceira Guerra Mundial.
Não eram boatos. Todos haviam morrido por causa disso.
Tudo aconteceu tão rápido que não percebera. Ao acordar, não conseguia se lembrar de nada. Foi quando o pesadelo começou.
Um pesadelo real e assustador que ele preferia jamais tivesse começado.
Queria ter morrido naquele instante para não assistir à tamanha desgraça.
Não havia o que fazer a não ser fugir e rezar para não ser devorado pelo homem de preto ou, até mesmo, por outro sobreviventevalemdaimaginacao.com

O GATO PRETO


Gato Preto


Não espero nem solicito o crédito do leitor para a tão extraordinária e no entanto tão familiar história que vou contar. Louco seria esperá-lo, num caso cuja evidência até os meus próprios sentidos se recusam a aceitar. No entanto não estou louco, e com toda a certeza que não estou a sonhar. Mas porque posso morrer amanhã, quero aliviar hoje o meu espírito. O meu fim imediato é mostrar ao mundo, simples, sucintamente e sem comentários, uma série de meros acontecimentos domésticos. 

Nas suas consequências, estes acontecimentos aterrorizaram-me, torturaram-me, destruíram-me. No entanto, não procurarei esclarecê-los. O sentimento que em mim despertaram foi quase exclusivamente o de terror; a muitos outros parecerão menos terríveis do que extravagantes. Mais tarde, será possível que se encontre uma inteligência qualquer que reduza a minha fantasia a uma banalidade. Qualquer inteligência mais serena, mais lógica e muito menos excitável do que a minha encontrará tão somente nas circunstâncias que relato com terror uma sequência bastante normal de causas e efeitos. 

Já na minha infância era notado pela docilidade e humanidade do meu carácter. Tão nobre era a ternura do meu coração, que eu acabava por tornar-me num joguete dos meus companheiros. Tinha uma especial afeição pelos animais e os meus pais permitiam-me possuir uma grande variedade deles. Com eles passava a maior parte do meu tempo e nunca me sentia tão feliz como quando lhes dava de comer e os acariciava. Esta faceta do meu carácter acentuou-se com os anos, e, quando homem, aí achava uma das minhas principais fontes de prazer. Quanto àqueles que já tiveram uma afeição por um cão fiel e sagaz, escusado será preocupar-me com explicar-lhes a natureza ou a intensidade da compensação que daí se pode tirar. No amor desinteressado de um animal, no sacrifício de si mesmo, alguma coisa há que vai direito ao coração de quem tão frequentemente pôde comprovar a amizade mesquinha e a frágil fidelidade do homem. 

Casei jovem e tive a felicidade de achar na minha mulher uma disposição de espírito que não era contrária à minha. Vendo o meu gosto por animais domésticos, nunca perdia a oportunidade de me proporcionar alguns exemplares das espécies mais agradáveis. Tínhamos pássaros, peixes dourados, um lindo cão, coelhos, um macaquinho, e um gato. 

Este último era um animal notavelmente forte e belo, completamente preto e excepcionalmente esperto. Quando falávamos da sua inteligência, a minha mulher, que não era de todo impermeável à superstição, fazia frequentes alusões à crença popular que considera todos os gatos pretos como feiticeiras disfarçadas. Não quero dizer que falasse deste assunto sempre a sério, e se me refiro agora a isto não é por qualquer motivo especial, mas apenas porque me veio à ideia. Plutão, assim se chamava o gato, era o meu amigo predilecto e companheiro de brincadeiras. Só eu lhe dava de comer e seguia-me por toda a parte, dentro de casa. Era até com dificuldade que conseguia impedir que me seguisse na rua. 

A nossa amizade durou assim vários anos, durante os quais o meu temperamento e o meu carácter sofreram uma alteração radical - envergonho-me de o confessar - para pior, devido ao demónio da intemperança. De dia para dia me tornava mais taciturno, mais irritável, mais indiferente aos sentimentos dos outros. Permitia-me usar de uma linguagem brutal com minha mulher. Com o tempo, cheguei até a usar de violência. Evidentemente que os meus pobres animaizinhos sentiram a transformação do meu carácter. Não só os desprezava como os tratava mal. Por Plutão, porém, ainda nutria uma certa consideração que me não deixava maltratá-lo. Quanto aos outros, não tinha escrúpulos em maltratar os coelhos, o macaco e até o cão, quando por acaso ou por afeição se atravessavam no meu caminho. 

Mas a doença tomava conta de mim - pois que doença se assemelha à do álcool? - e, por fim, até o próprio Plutão, que estava a ficar velho e, por consequência, um tanto impertinente, até o próprio Plutão começou a sentir os efeitos do meu carácter perverso. 

Certa noite, ao regressar a casa, completamente embriagado, de volta de um dos tugúrios da cidade, pareceu-me que o gato evitava a minha presença. Apanhei-o, e ele, horrorizado com a violência do meu gesto, feriu-me ligeiramente na mão com os dentes. Uma fúria dos demónios imediatamente se apossou de mim. Não me reconhecia. Dir-se-ia que a minha alma original se evolara do meu corpo num instante e uma ruindade mais do que demoníaca, saturada de genebra, fazia estremecer cada uma das fibras do meu corpo. Tirei do bolso do colete um canivete, abri-o, agarrei o pobre animal pelo pescoço e, deliberadamente, arranquei-lhe um olho da órbita! Queima-me a vergonha e todo eu estremeço ao escrever esta abominável atrocidade. 

Quando, com a manhã, me voltou a razão, quando se dissiparam os vapores da minha noite de estúrdia, experimentei um sentimento misto de horror e de remorso pelo crime que tinha cometido. Mas era um sentimento frágil e equívoco e o meu espírito continuava insensível. Voltei a mergulhar nos excessos, e depressa afoguei no álcool toda a recordação do acto. 

Entretanto, o gato curou-se lentamente. A órbita agora vazia apresentava, na verdade, um aspecto horroroso, mas o animal não aparentava qualquer sofrimento. Vagueava pela casa como de costume, mas, como seria de esperar, fugia aterrorizado quando eu me aproximava. Porém, restava-me ainda o suficiente do meu velho coração para me sentir agravado por esta evidente antipatia da parte de um animal que outrora tanto gostara de mim. Em breve este sentimento deu lugar à irritação. E para minha queda final e irrevogável, o espírito da PERVERSIDADE fez de seguida a sua aparição. Deste espírito não cura a filosofia. No entanto, não estou mais certo da existência da minha alma do que do facto que a perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano; uma dessas indivisas faculdades primárias, ou sentimentos, que deu uma direcção ao carácter do homem. Quem se não surpreendeu já uma centena de vezes cometendo uma acção néscia ou vil, pela única razão de saber que a não devia cometer? Não temos nós uma inclinação perpétua, pese ao melhor do nosso juízo, para violar aquilo que constitui a Lei, só porque sabemos que o é? E digo que este espírito de perversidade surgiu para minha perda final. Foi este anseio insondável da alma por se atormentar, por oferecer violência à sua própria natureza, por fazer o mal só pelo mal, que me forçou a continuar e, finalmente, a consumar a maldade que infligi ao inofensivo animal. Certa manhã, a sangue-frio, passei-lhe um nó corredio ao pescoço e enforquei-o no ramo de uma árvore; enforquei-o com as lágrimas a saltarem-me dos olhos e com o mais amargo remorso no coração; enforquei-o porque sabia que me tinha tido afeição e porque sabia que não me tinha dado razão para a torpeza; enforquei-o porque sabia que ao fazê-lo estava cometendo um pecado, um pecado mortal que comprometia a minha alma imortal a ponto de a colocar, se tal fosse possível, mesmo para além do alcance da infinita misericórdia do Deus Mais Piedoso e Mais Severo. 

Na noite do próprio dia em que este acto cruel foi perpetrado, fui acordado do sono aos gritos de «Fogo!». As cortinas da minha cama estavam em chamas; toda a casa era um braseiro. Foi com grande dificuldade que minha mulher, uma criada e eu conseguimos escapar do incêndio. A destruição foi completa. Todos os meus bens materiais foram destruídos, e daí em diante mergulhei no desespero. 

Sou superior à fraqueza de procurar estabelecer uma seqüência de causa a efeito entre a atrocidade e o desastre. Limito-me, porém, a narrar uma cadeia de acontecimentos e não quero deixar nem um elo sequer incompleto. Nos dias que se sucederam ao incêndio, visitei as ruínas. As paredes, à exceção de uma, tinham abatido por completo. Esta exceção era constituída por um tabique interior, não muito espesso, que estava sensivelmente a meio da casa, e de encontro ao qual antes ficava a cabeceira da minha cama. O reboco resistira em grande parte à ação do fogo, fato que atribuo a ter sido pouco antes restaurado. 

Próximo desta parede juntara-se uma densa multidão e muitas pessoas pareciam estar a examinar certa zona em particular, com minúcia e grande atenção. A minha curiosidade foi despertada pelas palavras «estranho», «singular» e outras expressões semelhantes. Aproximei-me e vi, como se fora gravado em baixo revelo, sobre a superfície branca, a figura de um gato gigantesco. A imagem estava desenhada com uma precisão realmente espantosa. Em volta do pescoço do animal estava uma corda.

Mal vi a aparição, pois nem podia pensar que doutra coisa se tratasse, o meu assombro e o meu terror foram imensos. Por fim, a reflexão veio em meu auxílio. Lembrei-me que o gato fora enforcado num jardim junto à casa. Após o alarme de incêndio, O dito jardim fora imediatamente invadido pela multidão e por alguém que deve ter cortado a corda do gato e o deve ter lançado para dentro do meu quarto, por uma janela aberta. Isto deve ter sido feito, provavelmente, com a intenção de me acordar. A queda das outras paredes tinha comprimido a vítima da minha crueldade na substância do reboco recentemente aplicado e cuja cal, combinada com as chamas e o amoníaco do cadáver, tinha produzido a imagem tal como eu a via. 

Tendo assim satisfeito prontamente a minha razão - que não totalmente a minha consciência - sobre o facto extraordinário atrás descrito, não deixou este, no entanto, de causar profunda impressão na minha imaginação. Durante meses não consegui libertar-me do fantasma do gato, e, durante este período, voltou-me ao espírito uma espécie de sentimento que parecia remorso, mas que o não era. Cheguei ao ponto de lamentar a perda do animal e a procurar à minha volta, nos sórdidos tugúrios que agora frequentava com assiduidade, um outro animal da mesma espécie e bastante parecido que preenchesse o seu lugar. 

Uma noite, estava eu sentado meio aturdido num antro mais do que infamante, a minha atenção foi despertada por um objecto preto que repousava no topo de um dos enormes toneis de gin ou de rum que constituíam o principal mobiliário do compartimento. Havia minutos que olhava para a parte superior do tonel, e o que agora me causava surpresa era o facto de não me ter apercebido mais cedo do objecto que estava em cima. Aproximei-me e toquei-lhe com a mão. Era um gato preto, um gato enorme, tão grande como Plutão e semelhante a ele em todos os aspectos menos num. Plutão não tinha sequer um único pêlo branco no corpo, enquanto este gato tinha uma mancha branca, grande mas indefinida, que lhe cobria toda a região do peito. 

Quando lhe toquei, imediatamente se levantou e ronronou com força, roçou-se pela minha mão, e parecia contente por o ter notado. Era este, pois, o animal que eu procurava. Imediatamente propus a compra ao dono, mas este nada tinha a reclamar pelo animal, nada sabia a seu respeito, nunca o tinha visto até então. 

Continuei a acariciá-lo, e quando me preparava para ir para casa, o animal mostrou-se disposto a acompanhar-me. Permiti que o fizesse, inclinando-me de vez em quando para o acariciar enquanto caminhava. Quando chegou a casa, adaptou-se logo e logo se tornou muito amigo da minha mulher. 

Pela minha parte, não tardou em surgir em mim uma antipatia por ele. Era exactamente o reverso do que eu esperava, mas, não sei como nem porquê, a sua evidente ternura por mim desgostava-me e aborrecia-me. Lentamente, a pouco e pouco, esses sentimentos de desgosto e de aborrecimento transformaram-se na amargura do ódio. Evitava o animal; um certo sentimento de vergonha e a lembrança do meu anterior acto de crueldade impediram-me de o maltratar fisicamente. Abstive-me, durante semanas, de o maltratar ou exercer sobre ele qualquer violência, mas, gradualmente, muito gradualmente, cheguei a nutrir por ele um horror indizível e a fugir silenciosamente da sua odiosa presença como do bafo da peste. 

O que aumentou, sem dúvida, o meu ódio pelo animal foi descobrir, na manhã do dia seguinte a tê-lo trazido para casa, que, tal como Plutão, tinha também sido privado de um dos seus olhos. Esta circunstância, contudo, mais afeição despertou na minha mulher, que, como já disse, possuía em alto grau aquele sentimento de humanidade que fora em tempos característica minha e a fonte de muitos dos meus prazeres mais simples e mais puros. 

Com a minha aversão pelo gato parecia crescer nele a sua preferência por mim. Seguia os meus passos com uma pertinácia que seria difícil fazer compreender ao leitor. Sempre que me sentava, enroscava-se debaixo da minha cadeira ou saltava-me para os joelhos, cobrindo-me com as suas repugnantes carícias. Se me levantava para caminhar, metia-se-me entre os pés e quase me fazia cair ou, fincando as suas garras compridas e aguçadas no meu roupão, trepava-me até ao peito. Em tais momentos, embora a minha vontade fosse matá-lo com uma pancada, era impedido de o fazer, em parte pela lembrança do meu crime anterior mas, principalmente, devo desde já confessá-lo, por um verdadeiro medo do animal. 

Este medo não era exactamente o receio de um mal físico; no entanto, é me difícil defini-lo de outro modo. Quase me envergonhava admitir - sim, mesmo aqui, nesta cela de malfeitor, eu me envergonho de admitir - que o terror e o horror que o animal me infundia se viam acrescidos de uma das fantasias mais perfeitas que é possível conceber. Minha mulher tinha-me chamado várias vezes a atenção para o aspecto da mancha de pêlo branco de que já falei, e que era a única diferença aparente entre o estranho animal e aquele que eu tinha eliminado. O leitor lembrar-se-á que esta marca, embora grande, era, originariamente, bastante indefinida, mas, gradualmente, por fases quase imperceptíveis e que durante muito tempo a minha razão lutou por rejeitar como fantasiosas, assumira, finalmente, uma rigorosa nitidez de contornos. Era agora a imagem de um objecto que me repugna mencionar, e por isso eu o odiava e temia acima de tudo, e ter-me-ia visto livre do monstro se o ousasse. Era agora a imagem de uma coisa abominável e sinistra: a imagem da forca!, oh!, lúgubre e terrível máquina de horror e de crime, de agonia e de morte. 

Por essa altura, eu era, na verdade, um miserável maior do que toda a miséria humana. E um bruto animal cujo semelhante eu destruíra com desprezo, um bruto animal a comandar-me, a mim, um homem, feito à imagem do Altíssimo - oh!, desventura insuportável. Ah, nem de dia nem de noite, nunca, oh!, nunca mais, conheci a bênção do repouso! Durante o dia o animal não me deixava um só momento. De noite, a cada hora, quando despertava dos meus sonhos cheios de indefinível angústia, era para sentir o bafo quente daquela coisa sobre o meu rosto e o seu peso enorme, encarnação de um pesadelo que eu não tinha forças para afastar, pesando-me eternamente sobre o coração. Sob a pressão de tormentos como estes, os fracos resquícios do bem que havia em mim desapareceram. Só os pensamentos pecaminosos me eram familiares - os mais sombrios e os mais infames dos pensamentos. A tristeza do meu temperamento aumentou até se tornar em ódio a tudo e à humanidade inteira. Entretanto, a minha dedicada mulher era a vítima mais usual e paciente das súbitas, frequentes e incontroláveis explosões de fúria a que então me abandonava cegamente. 

Um dia acompanhou-me, por qualquer afazer doméstico, à cave do velho edifício onde a nossa pobreza nos forçava a habitar. O gato seguiu-me nas escadas íngremes e quase me derrubou, o que me exasperou até à loucura. Apoderei-me de um machado, e desvanecendo-se na minha fúria o receio infantil que até então tinha detido a minha mão, desferi um golpe sobre o animal, que seria fatal se o tivesse atingido como eu queria. Mas o golpe foi sustido diabólicamente pela mão da minha mulher. Enraivecido pela sua intromissão, libertei o braço da sua mão e enterrei-lhe o machado no crânio. Caiu morta, ali mesmo, sem um queixume. 

Consumado este horrível crime, entreguei-me de seguida, com toda a determinação, à tarefa de esconder o corpo. Sabia que não o podia retirar de casa, quer de dia quer de noite, sem correr o risco de ser visto pelos vizinhos. Muitos projectos se atropelaram no meu cérebro. Em dado momento, cheguei a pensar em cortar o corpo em pequenos pedaços e destruí-los um a um pelo fogo. Noutro, decidi abrir uma cova no chão da cave. Depois pensei deitá-lo ao poço do jardim, ou metê-lo numa caixa como qualquer vulgar mercadoria e arranjar um carregador para o tirar de casa. Por fim, detive-me sobre o que considerei a melhor solução de todas. Decidi emparedá-lo na cave como, segundo as narrativas, faziam os monges da Idade Média às suas vítimas. 

A cave parecia convir perfeitamente aos meus intentos. As paredes não tinham sido feitas com os acabamentos do costume e, recentemente, tinham sido todas rebocadas com uma argamassa grossa que a humidade ambiente não deixara endurecer. Além do mais, numa das paredes havia uma saliência causada por uma chaminé falsa ou por uma lareira que tinha sido entaipada para se assemelhar ao resto da cave. Não duvidei que me seria fácil retirar os tijolos neste ponto, meter lá dentro o cadáver e tornar a pôr a taipa como antes, de modo que ninguém pudesse lobrigar qualquer sinal suspeito. 

Não me enganei nos meus cálculos. Com o auxílio de um pé-de-cabra retirei facilmente os tijolos, e depois de colocar cuidadosamente o corpo de encontro à parede interior, mantive-o naquela posição ao mesmo tempo que, com um certo trabalho, devolvia a toda a estrutura o seu aspecto primitivo. 

Usando de toda a precaução, procurei argamassa, areia e fibras com que preparei um reboco que se não distinguia do antigo e, com o maior cuidado, cobri os tijolos. Quando terminei, vi com satisfação que tudo estava certo. A parede não denunciava o menor sinal de ter sido mexida. Com o maior escrúpulo, apanhei do chão os resíduos. Olhei em volta, triunfante, e disse para comigo: «Aqui, pelo menos, não foi infrutífero o meu trabalho.» 

A seguir procurei o animal que tinha sido a causa de tanta desgraça, pois que, finalmente, tinha resolvido matá-lo. Se o tivesse encontrado naquele momento, era fatal o seu destino. Mas parecia que o astuto animal se alarmara com a violência da minha cólera anterior e evitou aparecer-me na frente, dado o meu estado de espírito. É impossível descrever ou imaginar a intensa e aprazível sensação de alívio que a ausência do detestável animal me trouxe. Não me apareceu durante toda a noite, e deste modo, pelo menos por uma noite, desde que o trouxera para casa, dormi bem e tranquilamente; sim, dormi, mesmo com o crime a pesar-me na consciência. 

Passaram-se o segundo e terceiro dias e o meu verdugo não aparecia. Mais uma vez respirei como um homem livre. O monstro, aterrorizado, tinha abandonado a casa para sempre! Nunca mais voltaria a vê-lo! 

Suprema felicidade a minha! A culpa da acção tenebrosa inquietava-me pouco. Fizeram-se alguns interrogatórios que colheram respostas satisfatórias. Fez-se inclusivamente uma busca, mas, naturalmente, nada se descobriu. Dava como certa a minha felicidade futura. 

No quarto dia após o crime, surgiu inesperadamente em minha casa um grupo de agentes da Polícia que procederam a uma rigorosa busca. Eu, porém, confiado na impenetrabilidade do esconderijo, não sentia qualquer embaraço. Os agentes quiseram que os acompanhasse na sua busca. Não deixaram o mínimo escaninho por investigar. Por fim, pela terceira ou quarta vez, desceram à cave. Nem um músculo me tremeu. O meu coração batia calmamente como o coração de quem vive na inocência. Percorri a cave de ponta a ponta. De braços cruzados no peito, andava descontraído de um lado para o outro. Os agentes estavam completamente satisfeitos e prontos para partir. O júbilo do meu coração era demasiado intenso para que o pudesse suster. Ansiava por dizer pelo menos uma palavra à guisa de triunfo e para tornar duplamente evidente a sua convicção da minha inocência. 

- Senhores - disse por fim, quando iam a subir os degraus. - Estou satisfeito por ter dissipado as vossas suspeitas. Desejo muita saúde para todos, e um pouco mais de cortesia. A propósito, esta casa está muito bem construída (e no meu furioso desejo de dizer qualquer coisa com à-vontade, mal sabia o que estava a dizer). Direi, até, que é uma casa excelentemente construída. Estas paredes... vão-se já embora, meus senhores?... Estas paredes estão solidamente ligadas. - E neste momento, por uma frenética fanfarronice, bati com força, com uma bengala que tinha na mão, na parede atrás da qual se encontrava o cadáver da minha querida esposa. 

Ah!, que Deus me livre das garras do arquidemónio! Mal tinha o eco das minhas pancadas mergulhado no silêncio, quando uma voz lhes respondeu de dentro do túmulo: um gemido, a princípio abafado e entrecortado como o choro de urna criança, que depois se transformou num prolongado grito sonoro e contínuo, extremamente anormal e inumano. Um bramido, um uivo, misto de horror e de triunfo, tal como só do inferno poderia vir, provindo das gargantas conjuntas dos condenados na sua agonia e dos demónios no gozo da condenação. 

Seria insensato falar dos meus pensamentos. Senti-me desfalecer e encostei-me à parede da frente. Tolhidos pelo terror e pela surpresa, os agentes que subiam a escada detiveram-se por instantes. Logo a seguir, doze braços vigorosos atacavam a parede. Esta caiu de um só golpe. O cadáver, já bastante decomposto e coberto de pastas de sangue, apareceu erecto frente aos circunstantes. Sobre a cabeça, com as vermelhas fauces dilatadas e o olho solitário chispando, estava o odioso gato cuja astúcia me compelira ao crime e cuja voz delatora me entregava ao carrasco. Eu tinha emparedado o monstro no túmuloalemdaimaginacao.com!

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Conheça as pessoas reais que inspiraram American Horror Story




 O seriado de televisão American Horror Story sempre foi considerado um programa tenebrosamente criativo, mas sua temporada mais recente – com o título Freak Show – ganha intensidade por conta de sua forte conexão com a realidade. Nos episódios, vemos Elsa Mars e seus artistas usando as deformidades que a natureza lhes deu para ganhar a vida em um mundo onde o diferente é tratado como bizarro.

Por mais triste que seja admitir, no entanto, as atitudes cruéis retratadas em American Horror Story: Freak Show frequentemente se aproximam do que realmente aconteceu com os integrantes dos “shows de horrores” antigos. Muitos dos personagens com deformidades que vemos no programa foram inspirados por pessoas que realmente possuem aqueles defeitos – e alguns deles são até interpretados por atores com as mesmas características.

A seguir, você pode conferir algumas imagens de pessoas reais que foram usadas como base para a construção dos personagens da série:

Fred Wilson, o “garoto-lagosta”

Nascido nos estado norte-americano de Massachusetts em 1866, Wilson trabalhava como membro integrante e uma das principais atrações de um “show de horrores”. Ele era portador de uma condição chamada ectrodactilia, que fazia com que os afetados nascessem sem o dedo central nas mãos ou pés – que acabavam parecendo com as pinças de lagostas e caranguejos. Ele foi usado como inspiração para o personagem Jimmy Darling.


Blanche Dumas

Famosa cortesã parisiense, Dumas nasceu com uma terceira perna e genitália dupla como defeito de nascença, provavelmente resultante da fusão de dois embriões no útero de sua mãe. Embora não seja um personagem propriamente dito, ela inspirou a garota nua que aparece na sequência de créditos do seriado.


 Annie Jones, a “mulher barbada”

Provável portadora de hirsutismo, aos cinco anos de idade Jones já possuía costeletas e um bigode completo. A garota foi sequestrada por um frenólogo – nome dado aos estudiosos da teoria de que a aparência de uma pessoa poderia demonstrar suas características mentais –, mas conseguiu escapar de seu sequestrador enquanto seus pais estavam no julgamento do sequestro. Em American Horror Story, a personagem Ethel Darling foi inspirada nela.

 Eli Bowen, a “maravilha sem pernas”

Nascido em 1844 no estado norte-americano de Ohio, Bowen impressionava o público com seus giros, quedas e acrobacias, que realizava mesmo sem ter pernas. Portador de focomelia, doença genética coloquialmente conhecida como “membros de foca”, ele viveu até os 79 anos de idade. A garota do skate de American Horror Story foi inspirada nele.


 Lucia Zarate, a “menor pessoa que já viveu”

Portadora de nanismo primordial microcefálico do tipo 2, Zarate nasceu em San Carlos, México, em 1890. Mesmo quando se tornou uma adulta completamente desenvolvida, ela manteve seu diminuto tamanho e pesava menos de 2 kg. No seriado, ela inspirou a criação da personagem Ma Petite, que é vivida pela atual "menor mulher do mundo", a indiana Jyoti Amge.


 Pip e Flip, as “gêmeas de Yucatan”

Causada por uma falha de desenvolvimento neurológico, a microcefalia fez com que Pip e Flip nascessem com crânios anormalmente pequenos. Elas apareceram pela primeira vez no filme Freaks, gravado por Tod Browning em 1932, em que ele mostrava pela primeira vez nas telas vários artistas secundários e atrações com diferentes condições físicas. Além de inspirar a criação do personagem Pepper, a produção de Browning recebe muitas referências no seriado.


 Millie-Christine, o “rouxinol de duas cabeças”

As gêmeas siamesas nasceram na posição de escravas no estado norte-americano da Carolina do Norte, em 1851. Seus pais as deram para o diretor circense John Pervis em troca de US$ 1 mil, mas posteriormente elas foram sequestradas para exibição em outros shows e reuniões médicas. As personagens Bette & Dot Tattler foram baseadas nelas.



 MegaCurioso
horroremdobro.com

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DAYWALT HORROR: Selfie





Este curta de terror mostra uma garota sozinha em uma noite qualquer, procurando passar seu tempo vendo filmes de terror na tv. Além disso ela também se diverte mexendo no celular e tirando fotos (selfie) . 

Será que é seguro ficar sozinha durante a noite?

Vejam durante a noite e com as luzes apagadas .

Vídeo by Drew Daywalt

A CURVA aka Teresa Fidalgo Ghost

A Lenda de Tereza Fidalgo

                                                  

Conta à lenda que, uma jovem muito bonita chamada Teresa Fidalgo, morreu em 1983, num acidente trágico, na cidade de Sintra, Portugal.

Inconformada com sua morte prematura, ela queria que todos morressem também.

Depois de anos, 3 jovens, Thiago, Tânia e David, estavam andando de carro próximo ao local onde Teresa Fidalgo havia morrido.

David estava filmando a viagem, quando de repente, avistaram uma bela jovem, à beira da estrada, pedindo carona.

Eles pararam o carro e deram carona para a garota, mas nem imaginavam que se tratava de um espírito maligno e atormentado.

Se apresentaram, e a garota disse que se chamava Teresa Fidalgo.

David direcionou sua câmera para Teresa e começou a filma-la sem parar, pois ficara encantado com sua beleza.

Quando chegou num certo ponto da estrada, Teresa pediu que eles encostassem o carro, dizendo que era ali que ela deveria saltar.

Quando Teresa viu que estavam no mesmo local onde ela morreu,ela começou a gritar 
assustadoramente. O susto foi tão grande que o carro capotou varias vezes.

Thiago e Tânia faleceram no acidente,mas David, o dono da câmera, sobreviveu.

Assustado e traumatizado com o acidente e com a morte de seus amigos, David sequer conseguia dar maiores detalhes sobre o porque do carro ter capotado daquela forma.

David contou aos policiais que haviam parado na estrada para dar carona a uma garota chamada Teresa Fidalgo e que ela também estava no carro na hora do acidente.
Só que a policia não encontrou seu corpo e nem vestígios de que realmente havia uma quarta pessoa dentro do carro.

A polícia investigou o caso, mais não conseguiu encontrar nada, a não ser o fato de que uma jovem chamada Teresa Fidalgo tinha morrido naquele mesmo local há muitos anos atrás, em 1983.
David, conseguiu salvar seu vídeo, e postou no Youtube.

A história ganhou tanta repercussão que envolveu até autoridades locais que convidaram peritos para verificar se o vídeo possui algum fato verídico ou não.

Verdade ou mentira? Lenda ou sobrenatural?

Assista o vídeo e tire acima
((Se você tiver problemas cardíacos, aconselho que não assista ao video))
 ATUALIZADO!




Não Cave Muito Fundo (Minecraft)

Não sei quem está lendo este texto mas suplico que me ajude. Rezo para que este arquivo seja materializado como parte do jogo e que alguém o encontre. Eu era um jogador de Minecraft como você, quando comecei a jogar estava na versão 0.8. Havia muitos bugs para consertar mas era um jogo extraordinário. Ficava horas e horas jogando e só saia quando minha mãe chamava para o jantar.
Como de costume liguei meu computador no sábado de manhã e carreguei meu mundo. Havia feito uma casa extraordinária com blocos de tijolos e uma pequena chaminé no telhado feita de pedra, o telhado era de madeira e no interior havia dois pisos com caixas e mesas de trabalho na parte de baixo e na parte de cima minha cama e algumas decorações de estantes de livros. Sempre me orgulhei das construções que fazia.

Precisava de metal e diamantes então entrei na caverna que havia escavado. Era muito fundo, havia chegado aos últimos blocos do mapa e estava escavando nesta altura. Tinha feito vários corredores um ao lado do outro com dois blocos separando cada um deles, assim não teria como perder de vista o metal. Havia tantas ramificações que não conseguia me achar muito bem lá dentro.
Tudo era muito escuro apenas algumas tochas iluminavam os corredores. Escolhi um dos corredores e comecei a cavar. Cavei durante alguns minutos e consegui algum ferro e depois de muito procurar finalmente achei um bloco de diamante. Não perdi tempo e fui rapidamente minerar. Estes blocos estavam logo abaixo dos meus pés e assim que quebrei um apareceu logo o próximo abaixo dele. Nunca cavo para baixo por causa da possível lava que pode surgir mas neste caso não havia nada ali alem dos blocos finais do mapa, são blocos negros inquebráveis, feitos para que nem um jogador o ultrapasse. Cavei mais uma vez para baixo e peguei diamante. Havia mais um bloco logo alem deste e cavei novamente, já tinha ao meu redor blocos escuros do final do mapa cavei mais uma vez e para minha surpresa havia mais diamantes. Com a ganância que qualquer jogador tem cavei mais uma vez e logo me dei conta que havia dois blocos negros para cada lado que olhasse, não havia como sair dali e ainda me sobrava mais um bloco de diamante logo abaixo dos meus pés. Não tinha escadas em meu inventário mas tinha blocos de areia. Pensei que poderia colocar areia sobre eu mesmo e assim morrer, assim viria novamente a este lugar depois e pegaria os itens com uma escada. Assim decidido cavei o ultimo bloco de diamante que havia abaixo dos meus pés. Cavei…

Para minha surpresa não havia mais blocos do final do mapa abaixo, não havia nada apenas um espaço escuro onde estava caindo. Fiquei com tanta raiva, pois havia perdido todos os meus itens neste bug.

Continuei caindo no vácuo esperando morrer. Comecei a olhar para os lados mas não via nada, continuava caindo e caindo quando olhei para baixo e vi algo estranho. Tinha um chão la em baixo e estava me aproximando cada vez mais. Pensei que seria um bug do jogo e que morreria assim que chegasse lá.
Demorou mais um tempo e não tinha chego ao chão ainda. Foi então que comecei a sentir um calafrio. Um vento frio batia em mim e não sabia de onde vinha, todas as janelas estavam fechadas. Comecei a passar mal, tontura e um embrulho no estomago me deixaram atordoado. Tentei me levantar da cadeira mas assim que coloquei o pé no chão e levantei ela rolou para o lado e senti a maior tontura que já havia sentido na minha vida. Olhei para a tela do monitor e vi que estava prestes a cair no que era provavelmente um bug do jogo. Desviei o olhar e fechei os olhos e esperei me espatifar no chão do meu quarto quando veio um frio na barriga e a sensação de queda livre.

Abri rapidamente o olho e estava tudo escuro, não enxergava nada e estava caindo, um vento terrivelmente forte não me deixava respirar meu coração batia muito forte e quando menos esperava houve o impacto.

Acabo de cair em um liquido preto e gosmento, tentei me levantar rapidamente e percebo que é raso, posso levantar, o liquido gelatinoso chega ate meus joelhos. Quando estou de pé sinto essa espécie de gel envolver meu corpo e ao mesmo tempo ficar rígido, fazendo com que ficasse cada vez mais apertado me impossibilitando de me mover.

Perdi a consciência, não lembro quanto tempo passei desacordado mas quando dei por mim estava de pé. Quando abro os olhos vejo o terreno feito de blocos, estava dentro do jogo! Era noite e não conseguia ver muito bem, via tudo com tons de roxo. Percebi que estava mais alto e quando vi meus braços percebo que são compridos e escuros. Não sabia o que fazer então comecei a andar pelo cenário, vejo esqueletos com arcos e os zumbis, eles não me fazem nada. Andei muito pelo terreno e quando começou a amanhecer senti uma sensação horrível, um enjoo e uma queimação na minha pele, desejei sair dali e assim como um passe de mágica desapareci e cai no mesmo pântano escuro novamente, não via nada lá, só aquela água escura e espessa. Não sei quanto tempo se passa entre aparecer no cenário e voltar ao pântano mas acredito que seja equivalente ao dia dentro do jogo. Repeti essa rotina muitas e muitas vezes, descobri cavernas mergulhei em lagos profundos, atravessei desertos e de vez em quando entrava em vilas mas como era de se esperar não consegui me comunicar com os NPCs.

Todas as vezes que reaparecia no cenário ele era diferente, até que um dia encontrei um jogador. Olhei para ele e ele me encarou, minha vontade era de correr para perto dele e tentar me comunicar mas não consegui desviar o olhar. Ficamos nos encarando petrificados por um tempo e então subitamente me teleporto para seu lado. Sei que devo ter machucado ele pois deu um salto e um ruído de golpe. Tento correr para perto mas ele se esquiva e entra em uma casa improvisada. Tinha uma janela, fico ali parado olhando para ele, tentando pensar em uma forma de falar ou me expressar mas não consigo. Posso pegar um bloco com as mãos mas nada disso faz chamar sua atenção. Fico sem saber o que fazer ate que o jogador vai para sua cama e dorme, fico observando ele a noite toda mas provavelmente só acorda na manha seguinte.

Repito isso todas as noites, algumas vezes mato um jogador, assusto outro mas é só uma forma de avisar para não cavar muito fundo…